Thiago Estêvão foi atingido por barreira no sábado (28), quando foi à casa de avó tentar salvar parentes. A família morava em Jardim Monte Verde, no limite entre o Recife e Jaboatão.
“Eu moro mais em cima, só que ontem aconteceu a tragédia, aí eu fui na casa dos meus avós. Fui chamar eles, tentar salvar eles. Todo mundo morreu e eu fiquei”. O depoimento é do auxiliar de pedreiro Thiago Estêvão, um dos sobreviventes do deslizamento de barreira que matou dezenas de pessoas em Jardim Monte Verde, no limite entre o Recife e Jaboatão
Desde quarta-feira (25), Pernambuco contabiliza mais de 50 mortes provocadas pelas fortes chuvas, além de 56 desaparecidos.
O acidente ocorreu no sábado (28). Thiago perdeu a mãe, os avós e primos. Na manhã deste domingo (29) ainda havia uma pessoa da família dele soterrada em meio aos escombros. Cinco pessoas ainda estão desaparecidas no local, segundo o Corpo de Bombeiros.
“Eu só pensava em Deus, eu estava até a testa sufocado pela lama. Fui tentar salvar meus avós, minha mãe foi junto”, disse.
Thiago disse que foi à casa dos avós no momento em que ouviu parte da barreira deslizando. A intenção era tirar os parentes da casa para salvar a vida deles. Junto com ele foi a mãe, Rosenilda Maria Oliveira da Silva, de 42 anos.
Segundo os moradores, a barreira cedeu em três momentos diferentes. O terceiro foi o pior, que atingiu a família de Thiago.
“Quando cheguei na casa dos meus avós, só escutei um estalo. Quando vi, a barreira engoliu tudo. Eu pensei que ia morrer, porque não conseguia respirar, porque a areia estava pressionando tudo”, afirmou o jovem.
Foi o pedreiro Washington Xavier que encontrou o amigo em meio à lama. Ele disse que, quando viu a barreira caída, entrou na casa da família de Thiago por intuição. Ele ajudou a tirar várias pessoas de dentro dos escombros.
“Quando vi, eu estava andando sobre as telhas da casa. Ele estava enterrado embaixo de uma coluna. Só vi a cabeça dele, ai puxei logo. Ele estava todo roxo, cheio de barro na boca. Eu tirei o barro e dei uns dois tapa na cara dele, foi aí que ele reagiu. Depois, vi a mãe dele, que ainda estava viva, mas não resistiu”, afirmou.
Ao todo, sete casas foram atingidas num dos pontos de deslizamento do Jardim Monte Verde. Seis delas eram de parentes de Thiago.
“Perdi minha mãe, três primos meus que têm entre 7 e 8 anos, meu primo mais velho, de 25, além da minha prima, que é mãe das crianças. Meus avós também morreram e minha prima está soterrada. Ainda consegui tirar meu tio e minha tia, que quebrou a perna”, contou.