A Polícia Civil de Sergipe está investigando uma denúncia de transfobia e lesão corporal contra um casal em um estabelecimento comercial de Aracaju, ocorrida na última segunda-feira. Uma das vítimas diz que foi agredida com arma de choque, chutes e spray de pimenta.
Segundo Yan Miguel Soares Oliveira, ele e a esposa estavam em um bar quando ele foi abordado por um segurança do local, ao tentar utilizar o banheiro masculino.
”O segurança entrou e de forma truculenta foi dizendo que eu não iria fazer aquilo ali. Chamando a minha esposa [ que estava segurando a porta pelo lado de fora para ninguém entrar] pelo pronome masculino e a tratando como se fosse um homem. Saiu e foi chamar reforços. Puxaram ela e eu estiquei o braço a fim de defender a minha esposa, puxando ela para trás de mim, pois queriam bater nela ali mesmo. Mas estavam se segurando, pois muita gente iria ver”.
Diante da situação, Yan afirmou ao segurança que iria embora do local, pois já estava incomodado com os olhares das pessoas para eles.
“Fomos conduzidos por um corredor lá dentro do estabelecimento e fui atingido por um golpe na costela. Não entendi muito bem no momento, e só depois percebi que era um choque. Parei no chão e só senti uma pancada na minha barriga”, disse ao contar que ainda foi chutado.
Ainda de acordo com ele, o segurança fez uso de spray de pimenta e tentou rasgar a sua camisa. Yan disse que só conseguiu se desvencilhar da situação após ter ajuda da esposa que impediu que ele levasse um outro choque e acabou sendo atingida na mão.
A delegada da Polícia Civil, Meire Mansuer, informou que as vítimas registraram boletim de ocorrência no plantão do Atendimento a Grupos Vulneráveis e as investigações já foram iniciadas. “Vão ser arroladas testemunhas e diligências iniciais já estão sendo efetuadas [..] as vítimas fizeram exames de corpo de delito”, explicou.
Ariel Matos, presidente da Associação de Travestis Unidas na Luta pela Cidadania (Unidas), afirma que o que aconteceu com o casal é um exemplo claro de preconceito.
“Quando o segurança parte a tratá-la no masculino, mesmo ela estando com a figura feminina, mesmo ela sendo uma pessoa que tem toda a sua documentação no nome feminino, com o gênero feminino, mesmo assim esse segurança se sente no direito de desrespeitá-la, violando o direito da vida dela. E quando o segurança também se sente no direito de retirar a camisa de Yan, é para mostrar que a Yan é uma pessoa trans”, apontou.
O que diz o estabelecimento comercial
Através de nota, o Boteco Hermes informou que uma análise detalhada de todos os acontecimentos está sendo realizada, inclusive com a verificação das imagens das câmeras de segurança, depoimento dos funcionários e testemunhas presentes no local.
A nota citou ainda o apoio incondicional a comunidade LGBTQIAPN+, e o repudio a qualquer forma de violência, preconceito ou intolerância.